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LIÇÃO 6 – DAVI UNIFICA O REINO DE ISRAEL – 2009

davi-imagem-topoDavi, para tornar-se o grande rei de Israel, precisou, antes, unir o povo.

INTRODUÇÃO

– Na continuidade do estudo da vida de Davi, veremos hoje a fase em que Davi foi rei de Judá.

Após a morte de Saul, Davi subiu ao trono, mas tão somente sobre a tribo de Judá.

– Para reinar sobre todo o Israel, o que se daria apenas após a morte de Isbosete, Davi precisaria unir o povo. A bênção e a vida somente vêm quando há união (Sl.133:3).

I – DAVI TORNA-SE REI DE JUDÁ

– Após termos tido uma lição que nos mostrou a natureza da liderança de Davi, retomaremos a linha cronológica, estudando, desta feita, o que, em nossa introdução ao trimestre, dissemos ter sido a quinta fase da vida de Davi, em que ele é rei de Judá.

– Com a devida “venia” de nosso ilustre comentarista, entendemos que este período foi de apenas dois anos, e não sete, como consta em nossa lição bíblica.

A Bíblia diz-nos que Isbosete, filho de Saul, constituído rei sobre Israel, com exceção da tribo de Judá, reinou apenas dois anos (II Sm.2:10) e que, após sua morte, todo Israel pasmou (II Sm.4:1), tendo, então, ido a Hebrom e ungido a Davi como rei (II Sm.5:1).

– Assim sendo, devemos entender que os sete anos e seis meses que se diz que Davi reinou sobre a casa de Judá em Hebrom (II Sm.2:11) não são sete anos e seis meses como rei apenas de Judá, mas, sim, dois anos como rei de Judá e cinco anos e seis meses como rei de todo o Israel, mas reinando em Hebrom.

Se entendermos diferentemente, temos de admitir que, durante cinco anos e seis meses, as onze tribos ficaram sem governo, numa situação de anarquia, similar à dos tempos dos juízes (Jz.21:25), o que nos parece não ser a melhor linha de interpretação, embora respeitemos tal entendimento.

– Mas, tornando à vida de Davi, na lição 4, havíamos deixado a nossa personagem na sua cidade de Ziclague, que havia ganhado de Áquis, rei de Gate, ainda sob os louros da vitória conquistada sobre os saqueadores, que haviam sido completamente derrotados (I Sm.30).

Davi vencera o teste da oposição e da divisão de seus homens, conseguindo uni-los apesar de todas as dificuldades. Como dissemos naquela lição, ao conseguir unificar e pacificar os seus homens, Davi completou a sua formação como líder, pois teria, como rei, de unificar o povo de Israel, que ingressava numa profunda crise.

– Enquanto Davi perseguia os amalequitas e conseguia vencê-los e ganhar grande despojo como também recuperar não só seu patrimônio e familiares, como os de seus homens, ocorria a guerra entre israelitas e filisteus, aquela guerra que os filisteus não haviam permitido que Davi participasse ao lado do rei de Gate (I Sm.29:6-11).

– Enquanto Davi conseguia a união de seus homens e a vitória sobre os amalequitas, com grande despojo, Israel experimentava uma derrota acachapante.

Saul, completamente desorientado, ao perceber que Deus não mais falava com ele, aprofundou-se ainda mais em sua impiedade e foi consultar uma feiticeira, numa verdadeira “sessão espírita”, que é descrita em I Sm.28, texto bíblico que, bem ao contrário do que fazem os espiritualistas, que nele buscam apoio para a invocação de mortos,

é a cabal demonstração de que tal atitude é abominável aos olhos do Senhor, só pode ser praticada por quem não agrada a Deus e que, além de tudo, é um ambiente onde, apesar das manifestações sobrenaturais, só há mentira e, quando muito, repetição de palavras que o diabo e seus anjos conhecem por meio de profecias anteriormente divulgadas pelos homens de Deus.

– O fato é que, enquanto Davi tinha acesso ao Senhor, era dirigido por Deus e, apesar das dificuldades, saía-se vitorioso, Saul, sem a direção de Deus, tendo consultado espíritos malignos, era completamente derrotado na montanha de Gilboa. Os filisteus, depois de muito tempo, obtinham uma grande vitória sobre Israel, tornando a ocupar parte do território israelita (I Sm.31:7).

– Como se não bastasse a grande vitória filisteia, tanto Saul quanto Jônatas foram mortos na batalha. Saul, temeroso e demonstrando uma covardia muito grande, pediu a seu pajem de armas que o matasse antes que caísse nas mãos dos flecheiros.

Ante a recusa do pajem de armas, o próprio Saul tomou a espada e se lançou sobre ela, suicidando-se (I Sm.31:4), se bem que o golpe que se deu não foi suficiente para matá-lo de uma só vez, tendo o “serviço” sido completado por um amalequita que por ali passava (II Sm.1:9,10).

– Terminava, assim, de modo tão triste e lamentável a trajetória de Saul. De ungido de Deus a um suicida, Saul experimentou a degradação espiritual numa verdadeira figura daqueles que apostatam da fé, daqueles que, uma vez tendo provado o dom celestial, sido feito participantes do Espírito Santo, provado a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro (Hb.6:4,5), recaem, sendo-lhes impossível o arrependimento.

– Este episódio mostra-nos claramente os destinos diferentes daqueles que, uma vez, se encontraram com o Senhor e receberam o Espírito Santo.

Os que permanecem fiéis, seguem a direção e orientação do Espírito, são por Ele guiados (Rm.8:16), são filhos de Deus, passam por grandes dificuldades (e vimos, na lição passada, quanta dificuldade Davi enfrentou com o saque de Ziclague), mas são mais do que vencedores por Aquele que nos amou (Rm.8:37),

enquanto que os que deixam o Senhor, rejeitam a Sua direção e orientação, negam o Senhor que os resgatou (II Pe.2:1), trazem sobre si repentina perdição, pois não será tardia a sua sentença e a sua perdição não dormita (II Pe.2:3).

– Anos se passaram entre a rejeição do Senhor e o triste fim de Saul, mas tudo se deu no tempo de Deus. Embora tenha permanecido como rei, inclusive com força para perseguir impiedosamente a Davi, o fato é que seu fim não poderia ser outro, pois é, no fim, que vemos a diferença entre quem serve a Deus e quem não O serve (Sl.73:17-19; Ml.3:18).

– Apenas três dias após a chegada de Davi em Ziclague, chega ao seu encontro o amalequita que havia apressado a morte de Saul e que lhe conta não só a derrota dos israelitas diante dos filisteus, mas, também, a morte de Saul e de Jônatas (na verdade, na batalha morreram todos os filhos de Saul, com exceção de Isbosete, também chamado de Es-Baal, a saber: Jônatas, Malquisua e Abinadabe – I Cr.8:33).

– O amalequita deu a notícia a Davi e, como prova de que estava a falar a verdade, trouxe a coroa de Saul bem como a manilha (ou bracelete) que trazia no seu braço a Davi, certamente pensando que, com este gesto, cairia na graça de Davi, de quem Saul era inimigo, buscando tirar algum proveito de sua “proeza”.

– A reação de Davi, porém, foi bem diferente da que pensava o amalequita. Davi não se alegrou com a morte de Saul, mas, de imediato, juntamente com seus homens, passaram a prantear e a chorar, tendo, também jejuado até a tarde tanto por Saul, quanto por Jônatas, pelo povo do Senhor e pela casa de Israel, porque haviam caído à espada (II Sm.1:12).

– Davi mostra, nesta atitude, diversas qualidades que deve ter um homem segundo o coração de Deus. Por primeiro, o homem que anda na direção e na vontade do Senhor não se alegra com a desgraça alheia.

As Escrituras são claríssimas ao nos ensinar que Deus não Se agrada daqueles que se alegram com o infortúnio do próximo, ainda que seja de um inimigo seu (Pv.24:17,18).

– Nos dias de hoje, muitos são os que estão a propalar, no meio do povo de Deus, uma “vingança santa”, um sentimento de revide e de desejo de mal aos adversários, aos “filhos do diabo”.

Chegam mesmo a dizer que a vergonha e a humilhação de quem se opôs contra nós é um verdadeiro “sabor de mel” para a vitória do cristão. Não, não e não! Não devemos nos alegrar da desgraça alheia, ainda que seja de alguém que se tenha voltado injustamente contra nós.

Davi havia sido impiedosamente perseguido por Saul, tinha plena consciência de que o rei havia sido rejeitado pelo Senhor, mas jamais quis o seu mal, porque era um homem segundo o coração de Deus (I Sm.13:14), ou seja, cuja vontade, sentimento, entendimento e pensamento eram os que se encontram em a natureza divina.

– Davi não queria o mal para Saul e muito menos para Jônatas, seu grande amigo, como para o povo do Senhor e para a casa de Israel. Davi, embora exilado, desejava o bem de sua nação, porque sentia como o Senhor, que sempre quer o bem de todos os homens, notadamente de Sua propriedade peculiar dentre os povos.

Não podemos, pois, amados irmãos, ser daqueles que desejam o “quanto pior, melhor”, pois este não é o comportamento de um verdadeiro cristão.

Devemos sempre estar ao lado daqueles que buscam proporcionar algum bem-estar aos nossos irmãos, aos nossos concidadãos, aos nossos compatriotas.

A Igreja, sal da terra e luz do mundo, está sempre do lado daqueles que querem melhorar, nunca daqueles que, como diz conhecido irmão que conosco participa dos estudos da EBD, “torcem para o touro”.

– Por segundo, Davi demonstrou que amava o seu povo e o amor ao povo é o primeiro requisito para que se possa governá-lo. Quanto mal temos sentido por aqueles que, ao governarem as nações, demonstram seu amor ao dinheiro e ao poder, mas não ao povo.

Saul era um rei que amava o poder, tinha verdadeira obsessão por ele, mas não amava o povo. Davi, cujo nome, como sabemos, significa “amado”, era alguém que amava o povo do Senhor e a casa de Israel, tendo, pois, plenas condições para reinar sobre ele. Não foi à toa que se notabilizou como o principal governante de Israel até os dias de hoje.

– Por terceiro, Davi mostrou que havia formado um grupo unido, dotado de um só sentimento, uma só regra de fé e prática.

Não somente ele rasgou seus vestidos, pranteou, chorou e jejuou, como também os seus homens, os quais, também, tinham muitos motivos para, humanamente falando, se alegrarem com a morte daquele que os havia posto em tantas dificuldades.

Davi, porém, tinha conseguido dar ao grupo um só sentimento, havia conseguido uni-los conforme a vontade e orientação do Senhor. O líder, no meio do povo de Deus, deve assim também fazer: levar o povo à unidade debaixo da direção do Espírito Santo (Jo.17:23; Ef.4:3,13).

– Após ter pranteado, chorado e jejuado por Saul, Jônatas e por Israel, Davi, então, fez justiça, matando o amalequita que lhe trouxera as notícias, tendo em vista que não havia temido matar o ungido do Senhor.

Davi mostra sua imparcialidade. Matou aquele que havia matado o seu inimigo, porque seu inimigo era ungido do Senhor, não poderia ser assassinado. Aliás, como o próprio amalequita havia dito, era desnecessário “o golpe de misericórdia” a Saul, que já havia se lançado sobre sua espada (II Sm.1:10).

O amalequita havia agido sem temor de Deus, buscando tirar proveito da desgraça alheia, pensando que, ao matar Saul e levar a prova disto a Davi, conseguiria alguma vantagem econômico-financeira e, até mesmo, alguma posição em o novo governo de Israel.

– Quantos, na atualidade, não procedem da mesma forma? Em troca de vantagens de ordem material, não têm qualquer temor de Deus e matam os ungidos do Senhor (que são todos os crentes e não somente os ministros – I Pe.2:9), principalmente aqueles que se encontram enfraquecidos e à beira do caminho, ou, pelo menos, manquejando.

Em vez de seguir o conselho bíblico de ajudar a levantá-los (Hb.12:12,13), preferem o caminho mais fácil do apressamento de sua morte, a fim de desfrutar as benesses imaginadas. Seu fim será como o do amalequita.

O Senhor, aqui tipificado por Davi, lhes dará o devido pago por seu homicídio: a morte. Nenhum homicida entrará no reino de Deus e quem mata seu irmão terá este triste fim (I Jo.3:15; Ap.22:15).

– O sentimento nutrido por Davi em relação a Saul e a Jônatas não era hipócrita, nem formal. Pelo contrário, provinha do fundo do coração, visto que Davi amava o povo de Deus e sabia que a desgraça atingia não só a Israel mas o próprio nome do Senhor, já que se questionaria, diante de tamanha derrota, a supremacia do Deus de Israel.

Assim, Davi, em meio à dor, compõe, inspirado pelo Espírito Santo, um lamento em honra a Saul e a Jônatas, que foi registrado no perdido “livro do Reto” (II Sm.1:17-27).

Na sua poesia, Davi chora a morte dos dois heróis da história de Israel, mostrando, também, a sua grande afeição para com Jônatas. Chama a ambos de valentes, mostra o “lado bom” de Saul, o que se haveria de lembrar dele pelas gerações de Israel.

– A morte de Saul e de Jônatas foi terrível para os israelitas. Além de perderem algumas cidades para os filisteus, que, assim, recuperavam fôlego numa sequência que lhes tinha sido amplamente desfavorável no controle da região, o país ficava sem governante.

A monarquia ainda incipiente de Israel estava vaga. Jônatas, que estava sendo preparado para suceder Saul, havia morrido juntamente com o pai, assim como todos os filhos de Saul, com exceção do mais moço, Es-Baal ou Isbosete, pessoa sem qualquer expressão na família real, tanto que nem guerreiro era.

– O país encontrava-se esfacelado. O domínio por parte dos filisteus de parte do território, bem como uma indisposição existente entre as tribos do norte e a tribo de Judá, no sul, que, como já vimos neste trimestre, era a mais numerosa mas que não conseguia nenhuma expressão política, prejudicava ainda mais a superação da crise.

Não devemos nos esquecer, ainda, que Israel não tinha uma capital, onde ficasse a infraestrutura do governo, pois a corte de Saul, ainda pequena, tinha se formado na própria cidade de Saul, Gibeá.

– Esta situação de indefinição não era desconhecida de Davi que, como ninguém, sabia que o trono era seu, pois fora ungido rei em lugar de Saul por Samuel há muitos anos.

Davi, então, consultou a Deus sobre se deveria voltar para Israel (pois Ziclague ficava no território dos filisteus) e o Senhor lhe respondeu afirmativamente. Davi perguntou para que cidade deveria ir e o Senhor lhe mandou que fosse para Hebrom (II Sm.2:1).

– A ida de Davi para Hebrom, feita na direção e orientação do Senhor, tinha amplo significado. Hebrom era cidade de refúgio, mas era, também, a cidade de Calebe, o grande nome da tribo de Judá, cujo genro, Otniel, aliás, havia sido o único judaíta a ter governado Israel, tendo sido seu primeiro juiz.

Sua ida até lá demonstra sua pretensão de ser o próximo rei de Israel. Seria isto indevida pretensão da parte de Davi? Em absoluto, foi uma atitude feita sob a direção de Deus. Além do mais, a pretensão de Davi era legítima, vez que já era público e notório que Deus estava com ele e que demonstrava ser o ungido do Senhor.

– Davi foi para Hebrom juntamente com seus familiares e com os seus homens. Este gesto de Davi mostra a sua convicção de que não deveria mais morar em Ziclague e que deveria retornar para Israel. D

avi age, assim, pela fé, pois, embora Deus o tivesse mandado fazer aquilo, não podemos nos esquecer que os judaítas não lhe haviam sido favoráveis quando da perseguição impiedosa de Saul. No entanto, Davi não se guiava pelas circunstâncias políticas, mas, sim, pela orientação de Deus. Como agimos?

Por fé ou diante das circunstâncias? Davi nada deixou em Ziclague, fez com que seus homens e seus familiares o seguissem a Hebrom, sem saber a reação que haveria da parte dos judaítas, mas confiando na Palavra do Senhor.

– Alguns dizem que Davi estava confiante de uma boa recepção, porque havia mandado parte do despojo conquistado junto aos amalequitas aos anciãos de Judá (I Sm.30:26). No entanto, não podemos assim pensar. Por mais que os anciãos de Judá estivessem simpáticos a Davi, daí a achar que o aceitariam como rei é ir muito longe. Davi agiu pela fé em Deus.

– Quando Davi chegou a Hebrom, os homens de Judá foram até ele e ungiram a Davi como rei de Judá. Começava uma nova fase na vida de Davi, em que, ungido pelos seus irmãos, passou a reinar sobre a sua tribo. Judá, assim, iniciava uma divisão no meio do povo de Israel, divisão que antecipava o que ocorreria oitenta anos depois, ao término do reinado de Salomão.

– Esta segunda unção de Davi, agora pelos judaítas, como bem expressa Charles Spurgeon, é figura da unção de Jesus pelos Seus irmãos, ou seja, pela Igreja que, após Sua vitória na cruz, tem sido aclamado como o Cristo, o Filho de Deus, pelos filhos de Deus (I Jo.5:1), até os tempos da restauração de tudo (At.3:21).

– Numa demonstração de que Davi não era um “divisor”, mas que agia sob a orientação e direção do Espírito de Deus, assim que Davi é avisado de que os homens de Jabes-Gileade haviam tirado os corpos de Saul e de seus muros e os sepultado, Davi mandou a eles uma mensagem de elogio e parabenização, comunicando a sua unção como rei de Judá (II Sm.2:5-7).

– Este gesto mostra que Davi não via neste gesto um obstáculo à sua ascensão como rei de todo o Israel, mas dava o devido valor à beneficência e à fidelidade, mostrando que não era um inimigo de Saul nem de quem o havia servido, mas, sim, que buscava o bem-estar de todo o povo, que vinha para unir, não para dividir.

– Como é bom quando agimos como Davi, quando valorizamos toda beneficência e fidelidade, sem nos preocuparmos se somos aceitos ou não, se somos reconhecidos ou não pelos homens.

O importante é reconhecermos que o que agrada a Deus deve ser elogiado, louvado, independentemente dos relacionamentos que tenhamos com quem o faça. Davi dava mais uma demonstração de imparcialidade, de cuidado em agradar a Deus e não aos homens, nem a si mesmo.

– Em Hebrom, Davi torna-se pai. O texto bíblico diz que chegou àquela cidade acompanhado de suas duas mulheres: Ainoã e Abigail (II Sm.2:2). Ali, nasceram alguns de seus filhos. Amnom foi o primogênito, filho de Ainoã. Seu segundo filho foi Quileabe, de Abigail.

– Ainda em Hebrom, Davi casou-se com Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur, o seu primeiro casamento “político”, com o qual mostrava sua intenção de firmar laços de amizade com os povos em volta, uma política de aproximação com os outros povos que seria, mais à frente, a grande arma a ser usada por Salomão na manutenção do reino expandido por Davi. Com Maaca, Davi teve seu terceiro filho, Absalão.

OBS: Gesur era um país que ficava na margem oriental do rio Jordão, cujo povo habitava perto do Sinai, terra que deveria pertencer a Manassés, mas que não foi conquistada por eles – Js.13:13).

– Além de Maaca, Davi ainda tomou para si outras mulheres, adotando, assim, o costume poligâmico dos monarcas de outras nações, a saber: Hagite, de quem teve Adonias, seu quarto filho; Abital, de quem teve o quinto filho, Sefatias e, por fim, Eglá, de quem teve o sexto filho, Itreão (II Sm.3:4,5).

Apesar de ser rei de Judá, Davi continuou sua desastrada vida familiar, o que lhe traria muito prejuízo no futuro.

II – O CONFLITO ENTRE DAVI E ISBOSETE

– Mas, apesar de Davi ter sido feito rei pelos judaítas e, em sua mensagem aos homens de Jabes-Gileade, ter demonstrado que estava disposto a uma missão de reconciliação do país, de reerguimento da nação, Abner, comandante do exército de Israel, mais do que depressa, levantou a Isbosete, o único filho de Saul que havia sobrevivido à derrota militar, como rei de Israel, tendo-o constituído como rei sobre todo o Israel, com exceção de Judá, que havia ungido a Davi (II Sm.2:8-11).

– Isbosete, pessoa sem expressão, que nem sequer guerreiro era, foi constituído como rei sobre Israel por imposição de Abner, comandante do exército, tendo sido aceito pelo povo, com exceção dos judaítas.

Isbosete não tinha qualquer chamado divino para reinar, foi feito rei por causa única e exclusivamente da sua qualidade de filho de Saul, como se isto fosse bastante. O povo pensava que a monarquia era tão somente hereditária, que Deus não deveria ter qualquer papel na escolha dos reis de Israel.

– O resultado desta escolha foi a divisão do país. Já enfraquecido pela derrota diante dos filisteus, Israel agora se dividia entre dois reis:

Davi, reinando sobre Judá e Isbosete, reinando sobre as demais tribos. Isbosete parecia ter a seu lado a legitimidade: o exército o apoiava, era filho do rei Saul e tinha recebido o apoio de onze tribos, além do que parecia ser mais maduro que Davi, pois tinha 40 anos (II Sm.2:10), enquanto Davi, apenas 30 (II Sm.4:4).

Davi, por sua vez, sem qualquer ascendência real, havia como se posto como rei em rebeldia da tribo de Judá.

– As aparências, porém, enganam. Devemos ter muito cuidado para não permitir que a aparência das estruturas, as circunstâncias sócio-políticas substituam a direção e orientação de Deus.

É interessante observar que não é dito, no texto bíblico, que Isbosete tenha sido ungido rei pelo sumo sacerdote, mas, sim, constituído rei pelo comandante do exército.

Aliás, neste período, o sumo sacerdócio vivia também uma crise, pois Abiatar, filho de Aimeleque, acompanhava Davi, depois da matança de Nobe e não se fala coisa alguma sobre a existência de outro sumo sacerdote nesse período da vida de Israel.

– Isbosete era um rei feito pelas estruturas de poder existentes no meio do povo de Deus, não um rei escolhido por Deus. Vemos aqui um verdadeiro conflito entre “o povo do Senhor” e “a casa de Israel” (II Sm.1:12).

Triste é a organização que não segue a orientação do Espírito Santo e passa a seguir os modelos mundanos, passa a constituir líderes que não são chamados por Deus, que não têm a unção do Espírito Santo.

Lamentavelmente, vemos, com pesar, que, em muitas igrejas locais, a hereditariedade tem prevalecido sobre a direção do Espírito Santo. Que Deus nos guarde de Isbosetes que venham tão somente a enfraquecer o povo de Deus.

– Embora Isbosete tenha iniciado seu reinado em nítida vantagem em relação a Davi, tendo ao seu lado o povo, as armas, a tradição, a ascendência biológica, o fato é que não tinha o principal: a unção de Deus.

Isbosete, dia após dia, nos seus dois anos de reinado, foi se enfraquecendo (II Sm.3:1), porque se tratava de uma escolha fundada em uma estrutura construída à margem da vontade do Senhor. Davi não tinha o que temer, pois haveria de reinar sobre todo o Israel, ainda que tivesse ainda de esperar um pouco mais.

– Às vezes, isto ocorre também conosco. No instante em que pensamos que a promessa está para se realizar, vemos que estruturas, inclusive no meio do povo de Deus, parecem nos impedir de chegar aonde Deus tem nos mandado. Isbosetes e Abneres levantam-se e ficamos reinando apenas sobre Judá, ganhamos lutas em vez de reconhecimento, em vez da realização de promessas.

Neste instante, devemos agir como Davi: ficar ao lado daqueles que servem a Deus e aguardar que, no momento certo, a promessa se realize.

– Após ter constituído Isbosete como rei, Abner vai em direção à tribo de Judá, que se comportava como “tribo rebelde”, vez que havia constituído Davi como rei.

A guerra era inevitável e Davi, diante desta situação, já sendo rei, precisava constituir um comandante para o seu exército. Davi constitui a seu primo Joabe, filho de sua irmã Zeruia (I Cr.2:16).

– Joabe vai em direção aos homens de Abner e quando as duas tropas ficaram uma diante da outra, no tanque de Gibeão, Abner fez uma proposta a Joabe no sentido de que as lutas se fizessem apenas entre os mancebos, os principais homens de cada lado. Tal proposta mostra-nos como o lado de Isbosete estava fora da direção de Deus.

Com efeito, a ideia de que a luta entre os dois exércitos se transformasse num “campeonato de luta”, num jogo revela quão distante estavam os homens de Isbosete da direção divina (II Sm.2:12-14).

– Israel vivia uma crise sem precedentes em sua história. Havia um verdadeiro “racha” no povo. Dois reis haviam sido aclamados e Israel corria o risco de desaparecer como nação.

Os dois exércitos encontram-se a proposta de Abner é que tudo se resolvesse num “jogo”, num “campeonato”. Numa situação tão séria, pretende-se resolver isto pela sorte, pelo entretenimento. Porventura, não é o que muitos, igualmente desorientados, estão a fazer em nossos dias?

As estruturas transformam o momento sério de luta contra o mal, de apostasia e de iminência da volta de Jesus em instantes de entretenimento, de diversão, de passatempo. Fujamos destas coisas, irmãos!

Igreja não é para nos divertirmos, mas para lutarmos contra as hostes espirituais da maldade!

OBS: Já há igrejas e denominações que transformam os templos em local de eventos esportivos. Já puseram ringues para fazer “campeonatos de vale-tudo” depois dos cultos.

E, durante os cultos, tudo se torna um grande “show”, com exibições de artistas, sejam pseudocantores, sejam pseudopregadores. Ah, antes que nos esqueçamos, também há as festas das nações ou dos estados (verdadeiras quermesses evangélicas), sem se falar na feijoada com pagode gospel e outras coisas mais. Fujamos disto!!!

– Como se não bastasse isso, a proposta de Abner não esconde a sua inspiração: os filisteus.

Anos antes, Golias havia proposto que uma guerra entre israelitas e filisteus se transformasse numa luta individual entre o gigante e alguém enviado pelos israelitas. Agora, o próprio Abner, comandante do exército de Israel, adotava uma tática do inimigo e propunha que uma luta coletiva se transformasse num torneio dos melhores.

Como havia constituído Isbosete mediante o modelo das outras nações, em que as monarquias eram hereditárias, Abner agora, também, adotava o modelo filisteu de lutar. Que decadência, que perda de identidade!

– Joabe aceitou a proposta de Abner. Mostra-se, de pronto, que sua qualidade de comandante era inferior a de Davi.

Joabe, na verdade, nunca superará Davi e terá um comportamento sempre oscilante e vago, que explica bem o seu trágico fim. Joabe aceitou a oferta e lá foram os campeões de um lado e de outro para o embate. O resultado foi o pior possível: todos morreram (II Sm.2:15,16).

– O “torneio” não resolveu coisa alguma e privou ambos os exércitos de seus melhores soldados. Este é o resultado do folguedo e do entretenimento na igreja nos nossos dias: morte de todos os que se envolvem com isso, sem que se tenha qualquer proveito. Vamos mudar esta triste situação que avança sobre nossas igrejas locais?

– Diante da morte de todos os “competidores”, inevitável foi a peleja entre ambos os exércitos. Asael, um dos valentes de Davi, irmão de Joabe, foi ao encalço de Abner que acabou por matá-lo depois de muito insistir que o moço não lhe perseguisse.

Tal morte fez com que Abner ficasse na mira de Joabe, que, pela lei de Moisés, tinha o direito de vingar o sangue de seu irmão (Nm.35:19; Dt.19:12).

– A hesitação de Abner em matar Asael indica-nos que faltava a Abner convicção no que estava a fazer em Israel.

Ao contrário de Davi que, seguindo a direção de Deus, deixara Ziclague e se instalara em Hebrom, Abner, apesar de ordenar a peleja contra Judá, primeiro, tentou resolver tudo na base de um “torneio”.

Depois, com a inevitabilidade da peleja, não queria matar o irmão de Joabe, primo de Davi, fazendo-o depois de muito tentar desviar Asael de seu intento homicida.

– Logo em seguida, quando a batalha se encaminhava para uma decisão, Abner propôs uma trégua, que foi aceita por Joabe, tendo cada um ido para o seu lado (II Sm.2:26-32). Apesar da trégua, os homens de Davi haviam tido nítida vantagem sobre os homens de Isbosete, pois morreram apenas 19 homens judaítas, enquanto que as baixas do lado de Abner tinham sido de 360.

– Abner, sabendo de sua fraqueza e inferioridade, propôs a trégua, que foi prontamente aceita por Joabe.

Uma vez mais, Joabe aceitava a oferta do inimigo e não resolvia o problema de Israel. Havia se mostrado vacilante, hesitoso, assim como Abner.

Dois comandantes vacilantes, mortes inúteis e a situação de dificuldade não havia se alterado, mas se intensificado, visto que surgira uma maior inimizade entre os contendores. Este é sempre o resultado de aceitarmos as ofertas e tréguas propostas pelo inimigo: morte e nenhuma solução.

– A guerra entre Davi e Isbosete continuou, mas, dia após dia, Davi ia se fortalecendo e Isbosete, enfraquecendo (II Sm.3:1). Além da vantagem militar, o partido de Davi teve, ainda, como vantagem, o surgimento de desavenças entre Isbosete e Abner.

– Abner havia mantido um relacionamento com uma concubina de Saul, Rizpa (II Sm.3:7), o que desagradou a Isbosete, que viu neste gesto uma clara indicação de que Abner se sentia o verdadeiro governante de Israel, o que era mais do que natural, já que havia sido o próprio Abner quem havia constituído a Isbosete sobre Israel.

– Quando Isbosete procurou impor sua autoridade a Abner, este se desgostou e resolveu passar para o lado de Davi, consciente de que Davi era aquele a quem Deus havia escolhido para reinar sobre Israel.

Quis entrar em contato com Davi e este só aceitou dialogar depois que lhe fosse restituída sua mulher Mical, que se encontrava casada com Paltiel. Isbosete atendeu a seu pedido, numa prova de que até o próprio Isbosete, diante de seu enfraquecimento constante, já aceitava que Davi reinasse sobre Judá e o mantivesse em paz (II Sm.3:14-16).

– Mais um gesto desastrado de Davi com relação a sua vida familiar. Mical lhe foi “devolvida”, mas as Escrituras nos mostram que havia uma grande afinidade entre ela e seu segundo marido, Paltiel, que ficou atrás dela, lamentando e chorando, humilhando-se, numa clara indicação de amor, pois isto era ridículo e admissível naquele tempo.

Mical não se importou com Paltiel pois achava que havia tirado a “sorte grande”, que se tornaria rainha, a favorita de Davi, que tanta questão fazia de lhe ter de volta.

Davi, entretanto, quis Mical de volta não por amor, mas como restituição do que lhe havia sido tomado na perseguição, por uma questão de autoafirmação, o que demonstra porque este casamento foi um fracasso, como teremos ocasião de estudar em lição próxima.

– Abner, porém, seguiu sua tentativa de aproximação com Davi e houve um banquete onde Abner se comprometeu a trazer todo o Israel para o comando de Davi (II Sm.3:17-21).

No entanto, após o banquete, quando Joabe, que estava ausente, volta para Hebrom, ao saber disto, vai ao encontro de Abner e o mata à traição, num gesto que Davi fez questão de mostrar seu desagrado, dando um funeral honroso a Abner e lamentando publicamente a sua morte (II Sm.3:22-39).

– Davi não havia se agradado da morte de Abner, mas não podia punir Joabe por ela. Com efeito, Joabe era vingador do sangue de Asael e Abner havia vacilado em aceitar encontrar-se com Joabe a sós.

Esta vacilação e hesitação de Abner acabaram levando-o à morte, precisamente porque agia sem a direção de Deus ou, tardiamente, percebia que havia agido contra a vontade de Deus.

Ainda que tivesse tentado remediar a situação, no meio de seus erros, havia cometido um homicídio e deveria ser devidamente punido pelo que havia cometido.

– Davi não se agradou do assassinato de Abner e levaria este desagrado até o final de sua vida, tanto que o rememorou a Salomão (I Rs.2:5,6).

No entanto, como Joabe estava amparado pela lei e Abner era, ainda, o comandante do exército de Israel que, em tese, era inimigo de Davi, não havia como tomar qualquer providência naquele instante e momento.

– Esta situação mostra-nos que, muitas vezes, as injustiças estão fora do alcance do homem. Não é possível sempre vermos a justiça triunfar entre os homens.

O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) chegou mesmo a dizer que a existência de injustiças neste mundo é uma prova da existência de Deus, pois, como não é possível a justiça triunfar, a sua presença e manutenção até o fim da existência terrena de algumas pessoas é a prova de que há “um mundo além da morte” e que, neste mundo, “há um juiz que aplica a justiça”.

– Morto Abner, destruiu-se o último alicerce em que se construíra o reinado de Isbosete. Sem Abner, sem ser um guerreiro, já enfraquecido, Isbosete não tinha como se manter no trono. Diz a Bíblia que as mãos de Isbosete se afrouxaram e que todo Israel pasmou (II Sm.4:1).

– Isbosete não tinha qualquer perfil real. Tinha sido feito rei, mas não era um rei. Queria tão somente “sombra e água fresca”, gozar do desfrute da função, como, infelizmente, agem muitos que estão à frente de igrejas locais.

Tomem cuidado, senhores, pois, quando menos esperarem, no seu sono, sobrevirá a morte. Como assim?

Vejamos o que aconteceu com Isbosete ou Esbaal, nome cujo significado é “homem de Baal” ou “homem de vergonha”, nome apropriadíssimo para tal espécie de pessoas que lideram, ou procuram liderar, o povo de Deus sem que tenham para isso sido chamados.

– Em meio a uma situação tão desesperadora e que exigia iniciativa, Isbosete apenas desfrutava das benesses da corte, mantendo uma vida de desfrute do luxo e dos benefícios do cargo.

Tanto assim que, em pleno meio-dia, dormia (II Sm.4:5), horário em que dois de seus homens entraram em sua casa e o mataram, cortaram sua cabeça e a trouxeram a Davi (II Sm.4:5-8).

– Encontramos aqui outros dois que procuram tirar vantagem da desgraça alheia. O amalequita havia trazido a coroa e a manilha de Saul para Davi. Agora, Recabe e Baaná, filhos de Rimom, levavam a cabeça de Isbosete a Davi.

Ao apresentar seu “troféu”, disseram que Isbosete era o filho de Saul, o inimigo de Davi, aquele que procurava a morte e que o assassinato de Isbosete era “a vingança de Saul e da sua semente” (II Sm.4:8).

– Como os filhos de Rimom estavam enganados. Davi não via a Saul como seu inimigo, mas, sim, como o ungido do Senhor.

Não considerava que precisava de vingança junto a Saul ou a sua semente, mas, pelo contrário, bem sabia ter se comprometido em preservar a descendência de Jônatas. Infelizmente, muitos agem como os filhos de Rimom em nossos dias: pecam, praticam iniquidade e dizem que tudo é “vingança do Senhor”. Tomemos cuidado!

– Davi, ao ouvir aquelas afirmações, não se deixou levar pela bajulação daqueles homens, que lhe chamavam de “rei meu senhor”, embora tivessem servido a Isbosete até aquele dia.

Observou que eram homens maus, assassinos, “ímpios homens, que mataram um homem justo em sua casa, sobre a sua cama” e que só mereciam o extermínio, tendo ambos sido mortos, cortado os pés e as mãos e pendurados sobre o tanque de Hebrom. Já a cabeça de Isbosete foi sepultada na sepultura de Abner, em Hebrom (II Sm.4:10-12).

– Davi demonstrava, uma vez mais, sua imparcialidade e sua correção. Recabe e Baaná eram assassinos, que haviam matado “um homem justo”.

Notemos que Davi, em momento algum, reconheceu a condição de rei de Isbosete, pois sabia que, diante de Deus, Isbosete não fora rei, tanto que não o mandou enterrar juntamente com Saul e Jônatas, mas na sepultura de Abner.

A justiça está em dar a cada um o que é seu e Davi bem demonstrava ser homem segundo o coração de Deus, porque sua justiça era presente em suas atitudes. Podemos dar este mesmo testemunho?

III – DAVI É UNGIDO REI SOBRE TODO O ISRAEL

– A situação política encaminhava-se para um só ponto: a entrega da coroa real a Davi. Isbosete fora assassinado e Abner também não mais vivia. As lideranças das tribos de Israel viram que não havia outro que pudesse governar sobre o povo senão Davi, que já reinava sobre Judá.

– Foram, então, a Hebrom, onde se confessaram “ossos e carne” de Davi e reconheceram toda a dedicação que Davi havia feito em prol de Israel quando fora comandante de tropas de Saul.

Reconheceram, também, que Davi havia sido escolhido por Deus para apascentar o povo de Israel e, em Hebrom, fizeram aliança com Davi e o ungiram rei sobre Israel (II Sm.5:1-4).

– Esta foi a terceira unção de Davi, que, ainda seguindo os ensinos de Charles Spurgeon, é figura da unção de Jesus como rei de Israel, que se dará no limiar da batalha do Armagedom, como vemos profetizado em Is.34:6 e Zc.12:10-13:6, instante em que Israel, finalmente, reconhecerá a Jesus como o Messias e Ele virá, derrotará o Anticristo e estabelecerá o Seu reino milenial sobre a Terra (Ap.20:6), o dia da salvação do remanescente de Israel (Rm.11:25,26).

– Davi tinha trinta anos quando começou a reinar em Hebrom sobre Judá e entendemos que tinha trinta e dois anos quando foi ungido por todo o Israel como rei, tendo, ainda reinado mais cinco anos e seis meses em Hebrom, onde, aliás, os israelitas foram ungi-lo.

– A unção de Davi como rei de todo o Israel é cercada de algumas características importantes, que nos servem de grande lição.

Por primeiro, devemos observar que foi resultado de uma unidade: “todo o Israel se ajuntou a Davi em Hebrom” (I Cr.11:1).

– A situação de divisão do país, que já perdurava dois anos, as tragédias militares, as mortes, tudo isso levara o povo a uma conscientização: precisavam se unir.

Esta ideia da unificação, já presente nas iniciativas de paz de Abner, foram intensificadas após a morte tanto de Abner quanto de Isbosete. Não foi uma imposição pela força, mas fruto de um consenso, de uma reflexão profunda por parte das lideranças de Israel.

– A unificação não se impõe pelo medo, pela força, pela violência. Muito pelo contrário, deve ser obtida por um consenso, por uma concordância entre todos, pela concessão de liberdade ao Espírito Santo.

Israel era o povo de Deus e não podia ficar se digladiando indefinidamente. Foi preciso acontecer algumas tragédias para que o povo percebesse que deveria agir segundo a orientação do Senhor. Nesta meditação, chegaram à conclusão que Davi deveria reinar sobre eles.

– Com a Igreja, o Israel de Deus (Gl.6:16), não é diferente, mas, antes, isto é muito mais necessário, indispensável até. Em Israel, não eram todos os que tinham o Espírito Santo.

Deveriam buscar aqueles que eram ungidos pelo Senhor para por eles se orientarem. Nos dias que estamos a estudar, a situação espiritual era desesperadora: não havia quem tivesse o Espírito de Deus.

Quem o tinha era Davi, mas este reinava sobre Judá. Não havia sumo sacerdote, pois Abiatar, o filho daquele que havia sido assassinado por Saul (Aimeleque), estava com Davi.

Não há notícia de que tivessem ido consultar os “filhos dos profetas” que, por sinal, já estavam sem o seu mentor, pois Samuel também já havia morrido.

– Sem o Espírito Santo, a situação fica difícil, quase insustentável. Foi preciso acontecer muita coisa para que os anciãos de Israel “acordassem” e percebessem que Davi era, na realidade, aquele escolhido por Deus para reinar sobre Seu povo. Mas, não é o que vemos acontecer em muitas igrejas locais nos dias de hoje?

Despertamentos tardios, que ocorrem só depois que se chega a um estado desesperador, de verdadeira falência da organização?

– A Igreja é constituída pela premissa da unidade do Espírito pelo vínculo da paz (Ef.4:3). Há um só corpo, um só Espírito, uma só esperança da vocação, um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos (Ef.4:4-6).

No entanto, nos dias hodiernos, o que vemos é a disseminação do partidarismo que havia em Corinto (I Co.3:1-5), sinal da carnalidade que caracteriza a apostasia de nossa dispensação.

– Que devemos fazer? Ora, se os anciãos de Israel, que não tinham o Espírito, refletiram e chegaram à conclusão de que deveriam unificar a nação, como nós, que temos o Espírito Santo, podemos agir de modo diferente? Batalhemos pela unificação, pela construção de uma unidade do Espírito pelo vínculo da paz.

Que nos unamos para enfrentar as hostes espirituais da maldade, respeitando cada um a sua peculiaridade, a sua individualidade, mas todos seguindo a orientação do único e verdadeiro Deus!

– Ao chegarem à presença de Davi, os anciãos, após terem se conscientizado da necessidade da unificação, deram o primeiro passo para tanto, confessando-se “ossos e carne” de Davi.

Esta expressão, que nos evoca a expressão de Adão em relação a Eva (Gn.2:23), é a mais sublime expressão da unidade: somos unidos quando nos consideramos iguais e participantes uns dos outros.

Só há união quando entendemos que temos todos o mesmo Espírito, que somos um corpo, ou seja, que dependemos uns dos outros, que somos parte integrante uns dos outros.

– Nos dias em que vivemos, em que impera o discurso da autossuficiência, do egoísmo, como já tivemos ocasião de dissertar neste trimestre, é muito difícil entendermos que precisamos uns dos outros, que somente seremos completos se um e outro estiverem juntos, caminhando no mesmo sentido.

Somente quando percebermos que sem o outro não podemos atingir a nossa plenitude, o propósito de Deus para conosco, teremos condições de construir esta unidade.

– Os anciãos de Israel modificaram a situação que até então existia. Até ali, os israelitas tinham dito que podiam viver sem Davi e Davi, por sua vez, também achava que podia viver sem os israelitas.

Aliás, quando partiu para viver entre os filisteus, Davi estava como que afirmando que não precisava dos israelitas para sobreviver. Ledo engano, porém, de ambas as partes.

– Os israelitas estavam aprendendo, com o sofrimento, que, enquanto não fossem ao encontro de Davi, a situação da nação só tenderia a piorar.

Viviam eles um retrocesso de anos, toda a luta pela liberdade dos inimigos ao redor (em especial dos filisteus) e pela construção de uma consciência nacional estava em xeque e tudo porque os israelitas se negavam a ter Davi como seu rei.

– Do mesmo modo, Davi tinha aprendido que, enquanto os israelitas não o aceitassem como rei, jamais se cumpriria em sua vida a promessa de Deus. Um precisava do outro.

– O mesmo ocorre na igreja do Senhor. Somos um corpo, onde cada integrante é absolutamente necessário. Há, atualmente, muito sofrimento, muita situação de calamidade porque muitos membros têm se negado a integrar-se, a se tornar parte deste organismo regido pelo Senhor Jesus.

O resultado é a doença e, muitas vezes, a morte espiritual. Que acontece com um membro do corpo que dele se separa? Que acontece com o ramo que se desprende do tronco? Morrem, são lançados ao fogo.

Não há espaço para o individualismo e para o orgulho na vida com Deus. Despertemos antes que venhamos a ser lançados fora, sequemos e sejamos colhidos e lançados no fogo, para arder continuamente (Jo.15:6).

– É importante observar que os anciãos de Israel não vieram se submeter a Davi, dizer-se servos dele, como, aliás, era costume no governo anterior, em que todos haviam se assumido como “servos de Saul”. Embora fosse claro que, como rei, Davi haveria de ter posição de proeminência sobre o povo de Israel, a proposta era de serem “teus ossos e carne”, tanto que se fez uma aliança entre Davi e os anciãos de Israel.

Davi governaria, estaria adiante do povo, mas não poderia se isolar e simplesmente desmerecer o povo. Deveria apascentá-los, ou seja, cuidar deles, alimentá-los, cuidar da sua sobrevivência. Por isso, oitenta anos depois, quando as tribos se separam da casa de Davi, estavam juridicamente corretas, porque Roboão, por suas palavras (I Rs.12:13-15), quebrou esta aliança firmada entre Davi e Israel (II Sm.5:3).

– Por que os anciãos resolveram ungir Davi como rei de Israel? Por primeiro, porque reconheciam a dedicação e fidelidade de Davi enquanto servira Saul.

O primeiro ponto a observar para que alguém assuma a liderança no meio da igreja do Senhor é a sua “folha de serviços prestados”, o seu “curriculum vitae”.

Davi havia sido fiel, trabalhador, prudente e obediente a Saul. Tais qualidades o credenciavam para reinar sobre Israel. Davi era guerreiro, conhecia a arte da guerra, não era apenas um teórico, mas alguém que tinha experiência e maturidade, apesar de sua pouca idade (32 anos).

– Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo diz que não podem ser levados ao ministério pessoas neófitas, ou seja, pessoas que não tenham experiência com Deus, que não tenham maturidade espiritual, que não tenham sido bons servidores antes de ser guindados ao ministério (I Tm.3:6).

A triste experiência de Isbosete tinha sido exemplar para os anciãos. Embora Isbosete fosse mais velho que Davi, era bem menos experiente, bem menos vivido.

– Temos de admitir que, na atualidade, nossas igrejas locais têm sofrido muito pela avalanche de obreiros neófitos, que são precipitadamente separados sem que tenham qualquer experiência espiritual profunda com Deus. O resultado é que sua infantilidade contamina a direção da igreja com grande prejuízo à obra de Deus.

– Mas não bastava a “folha de serviços prestados”, que, ademais, deve ser avaliada tanto em seu aspecto quantitativo, quanto qualitativo.

Os anciãos também se recordaram das evidências e das profecias que mostravam que Davi era o ungido de Deus. O próprio Saul disto tinha conhecimento, como também os que tinham visão espiritual, como tinha sido o caso de Jônatas.

Davi apresentou-se a Israel, progressivamente, como sendo aquele homem que haveria de suceder Saul, que havia sido rejeitado por Deus.

– A situação de calamidade por que passava Israel era necessária para que todos pudessem enxergar aquilo que, no início, só os espirituais haviam discernido: que Saul havia sido rejeitado por Deus e que sua casa não mais poderia reinar sobre Israel, bem como que Deus há havia escolhido novo rei e dinastia.

Alguns, como Jônatas, entenderam isto logo depois que Davi venceu Golias. Outros precisariam do desastre armado por Saul, Abner e Isbosete para entendê-lo.

– Os anciãos chegaram à conclusão de que não poderiam contender com Deus. Como é bom quando deixamos de contender com o Espírito de Deus e nos submetemos à Sua vontade.

Muito sofrimento, muita tragédia, muito desastre, muita aflição simplesmente nunca ocorreriam se fôssemos menos teimosos e mais submissos ao Senhor. Quando há contenda com o Espírito Santo, Deus tem de lançar mão dos Seus juízos (Gn.6:3).

Precisou acontecer todo este desastre para que todos os anciãos percebessem que Davi era o escolhido de Deus para apascentar e chefiar Israel (II Sm.5:2).

– Davi é ungido pelos anciãos de Israel em Hebrom, perante o Senhor. Embora estivessem a escolher um novo rei, os anciãos tinham, também, aprendido a lição de que não é possível ter um rei sem o consentimento e a escolha do Senhor.

Isbosete fora constituído sem unção, por um arranjo político, fora da direção do Senhor. Agora, Davi era ungido (ali estava Abiatar para ungi-lo) diante do Senhor, mediante uma aliança firmada com Israel. Que diferença!

– Davi era o escolhido de Deus, mas isto não o isentou de ter de fazer aliança com o povo. O ungido não deixa de ter compromissos com o seu próximo. Por isso, toda a lei se resume em amar a Deus e ao próximo como a si mesmo (Mt.22:37-40).

Quantos que, na atualidade, pensam que podem agradar a Deus sem que tenham de cumprir compromissos assumidos perante terceiros. Quantos que, na atualidade, acham que podem servir a Deus sem se comprometer com outros homens.

Fujamos deste comportamento, pois isto é um engano proveniente do maligno para nos impedir de ter real comunhão com o Senhor.

– Depois de não se sabe quantos anos (pois não sabemos a idade de Davi quando foi ungido por Samuel), Davi, finalmente, via cumprir-se na sua vida a promessa de Deus de que haveria de ser tirado de detrás das ovelhas de seu pai para reinar sobre todo Israel.

Davi chegava ao trono e iniciava o seu reinado propriamente dito, sobre todas as tribos de Israel.

– Que fez ao subir ao trono? Quais foram as suas prioridades? É o que estudaremos na próxima lição.

Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco

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